quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Meu Natal - António Nobre




A noite de Natal. Em meu país, agora,

O que não vai até ao romper do dia, a aurora!
As mesas de jantar na cidade e na aldeia,
À luz das velas, ou à luz duma candeia,
Entre risadas de crianças e cristais
(De que me chegam até mim só ais, só ais),
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
Pondo de parte ódios, torturas, aflições,
Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
São todas em redor de uma toalha de linho!

António Nobre



Se clicares na figura que está em baixo   podes  vir a saber muitas curiosidades sobre o natal:





A BIBLIOTECA DE GONDIFELOS DESEJA UM FELIZ NATAL A TODOS ...OH..OH..OH..




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O Natal de outros tempos.....



Chove. É Dia de Natal....

















Chove. É dia de Natal. 
Lá para o Norte é melhor: 
Há a neve que faz mal, 
E o frio que ainda é pior. 

E toda a gente é contente 
Porque é dia de o ficar. 
Chove no Natal presente. 
Antes isso que nevar. 

Pois apesar de ser esse 
O Natal da convenção, 
Quando o corpo me arrefece 
Tenho o frio e Natal não. 

Deixo sentir a quem quadra 
E o Natal a quem o fez, 
Pois se escrevo ainda outra quadra 
Fico gelado dos pés. 


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Não Digas Nada..











Não digas nada! 

Nem mesmo a verdade 
Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender — 
Tudo metade 
De sentir e de ver... 
Não digas nada 
Deixa esquecer 

Talvez que amanhã 
Em outra paisagem 
Digas que foi vã 
Toda essa viagem 
Até onde quis 
Ser quem me agrada... 
Mas ali fui feliz 
Não digas nada


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 

Educar com cinema ‘Aprendizagem e Integração’ 1ª sessão - Filme A esquiva.


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O Homem Foi Sempre Mau,,Camilo Castelo Branco

O homem foi sempre mau; será mau até ao fim. A sociedade parece melhor do que foi, olhada colectivamente: é parte nisto a lei, e, grande parte o cálculo. Cada indivíduo se constrange e enfreia no pacto social para auferir as vantagens de o não romper; porém, o instinto de cada homem, em comunidade de homens, está de contínuo repuxando para a desorganização. Eu aceito, como puros, os corações formados na solidão, a não se dar a segunda hipótese do provérbio, que disse: homem sozinho, das duas uma: ou Deus ou bruto. 
Camilo Castelo Branco, in 'O Bem e o Mal (1863)' 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

CONTRASTES......


A Estupidez e a Maldade Humana....




Vista à distância, a humanidade é uma coisa muito bonita, com uma larga e suculenta história, muita literatura, muita arte, filosofias e religiões em barda, para todos os apetites, ciência que é um regalo, desenvolvimento que não se sabe aonde vai parar, enfim, o Criador tem todas as razões para estar satisfeito e orgulhoso da imaginação de que a si mesmo se dotou. Qualquer observador imparcial reconheceria que nenhum deus de outra galáxia teria feito melhor. Porém, se a olharmos de perto, a humanidade (tu, ele, nós, vós, eles, eu) é, com perdão da grosseira palavra, uma merda. Sim, estou a pensar nos mortos do Ruanda, de Angola, da Bósnia, do Curdistão, do Sudão, do Brasil, de toda a parte, montanhas de mortos, mortos de fome, mortos de miséria, mortos fuzilados, degolados, queimados, estraçalhados, mortos, mortos, mortos. Quantos milhões de pessoas terão acabado assim neste maldito século que está prestes a acabar? (Digo maldito, e foi nele que nasci e vivo...) Por favor, alguém que me faça estas contas, dêem-me um número que sirva para medir, só aproximadamente, bem o sei, a estupidez e a maldade humana. E, já que estão com a mão na calculadora, não se esqueçam de incluir na contagem um homem de 27 anos, de profissão jogador de futebol, chamado Andrés Escobar, colombiano, assassinado a tiro e a sangue-frio, na célebre cidade de Medellín, por ter metido um golo na sua própria baliza durante um jogo do campeonato do mundo... Sem dúvida, tinha razão o Álvaro de Campos: «Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer». Sem dúvida, mas não desta maneira. 


José Saramago, in 'Cadernos de Lanzarote (1994)' 

O OLP -OBSERVATÓRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA- APRESENTA E PROMOVE A BIBLIOTECA DE LIVROS DIGITAIS



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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

..O Mundo é de Quem não Sente...


O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alhieo, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir. 
Para agir é, pois, preciso que nos não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima. 

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Nick Cave & The Bad Seeds - Into My Arms ...singela homenagem aos que partiram de forma horrível em paris..




O Pior Medo é o Medo de Nós Próprios...


O medo é muitas vezes o muro que impede as pessoas de fazerem uma série de coisas. Claro que o medo também pode ser positivo, em certa medida ajuda a que se equilibrem alguns elementos e se tenham certas coisas em consideração, mas na maior parte dos casos é negativo, é algo que nos faz mal. (...) O pior medo é o medo de nós próprios e a pior opressão é a auto-opressão. Antes de se tentar lutar contra qualquer outra coisa, penso que é importante lutarmos contra ela e conquistarmos a liberdade de não termos medo de nós próprios.

José Luís Peixoto,

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Momento de poesia...Voz de Outono de Antero de Quental








Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
— «Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,

Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel
deveza, Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!

Mais valera à tua alma visionária
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,

(Sem ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» —

Antero de Quental, in "Sonetos" 

Vencedora de Outubro do livro do mês...



A lenda de S. Martinho..




terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quadra e advinhas do S.Martinho..









QUADRAS

Ó meu rico S. Martinho,
Gosto muito das tuas castanhinhas
Adoro-as muito
De preferência bem quentinhas.

Catarina Araújo, 5º 1

O S. Martinho é solidário,
Partilhou a sua capa com o mendigo,
Comeu castanhas quentinhas
 E ganhou um novo amigo.

Prof.ª Rosa Dias

Sei bem o que vou dizer:
No dia de S. Martinho
Há sempre festa a valer
Com castanhas e bom vinho.

Dª Cristina Coutinho

O verão de S. Martinho
Chega sempre à hora certa
Traz castanhas e bom vinho
Da pipa que fica aberta.

Luísa Faria, 5º 2

No dia de S. Martinho,
Os ouriços abrem
Comemos castanhas
Que bem que sabem.

Tatiana Pereira, 5º2

O S. Martinho chegou
Com castanhas bem quentinhas
Saltou a fogueira
Com as amiguinhas

Beatriz Silva, 5º 1
Quando o frio chega
Assam-se as castanhas no quentinho
Abre-se a pipa na adega
É tempo de provar o vinho

Prof. António Paulo Gonçalves

On célèbre au Portugal
La fête de Saint Martin
On mange des châtaignes
Et on boit du bon vin.

Luísa Faria, 5º 2 e profª Rosa Dias

Les adultes et les enfants
Trouvent la fête une merveille
On joue, on mange, on rigole
Et normalement brille le soleil.

Luísa Faria, 5º 2 e profª Rosa Dias

C’est une fête chouette
Où la châtaigne est reine
On saute les feux de Saint Martin
Le vin coule à la fontaine.


Luísa Faria, 5º 2 e profª Rosa Dias



ADIVINHAS
1

Tenho camisa e casaco
Sem remendo nem buraco
Estoiro como um foguete
Se alguém no lume me mete

2

                       Se me rio… de mim sai uma donzela
Mais donzela do que eu
Ela vai com quem a leva
Eu fico com quem me deu

3

Qual a coisa qual e ela
Tem três capas de Inverno
A segunda é lustrosa
A terceira é amargosa

4

Tem casca bem guardada
Ninguém lhe pode mexer
Sozinha ou acompanhada
Em Novembro nos vem ver
















Soluções:

1- Castanha 
2- Ouriço
3- Castanha

4- Castanha






sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Texto da semana...O Ideal é a Vida..

A nossa vida sem ideais nenhuns, toda quotidiana, quer no presente quer pelo pensamento do futuro. Perdendo a religião, nada reavemos para a substituir; nem arte, porque a arte é, como religião, para muito poucos; nem ciência, que é para menos ainda, nem filosofia, que é para quase nenhuns. 
Não me refiro à conducta mas a ideais. Uma sociedade nunca pode ser grande nem pura sem ideais, porque na moral que nasce, na moral para uso quotidiano e de quotidiana origem, caberá uma certa decência, uma honestidade, razoáveis instintos humanitários, mas não uma nobreza de qualquer espécie, não uma grandeza de carácter. E o ponto importante é este. O ideal é a vida; vamos perdendo o ideal, e a nossa vitalidade vai diminuindo tristemente. 

Fernando Pessoa, 'Inéditos' 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

TEXTO DA SEMANA...O Medo De Nós Próprios..






Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expessão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo. 

Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray' 


VENCEDORES DO VII CONCURSO DE LEITURA EXPRESSIVA DE PORTUGUÊS...




VENCEDORES DO VII CONCURSO DE LEITURA EXPRESSIVA EM INGLÊS..




terça-feira, 13 de outubro de 2015

Texto da semana....Somos Uma Nação Que Se Regenera






Que somos nós hoje? Uma nação que tende a regenerar-se: diremos mais: que se regenera. Regenera-se, porque se repreende a si própria; porque se revolve no lodaçal onde dormia tranquila; porque se irrita da sua decadência, e já não sorri sem vergonha ao insultar de estranhos; porque principia, enfim, a reconhecer que o trabalho não desonra, e vai esquecendo as visagens senhoris de fidalga. Deixai passar essas paixões pequenas e más que combatem na arena política, deixai flutuar à luz do sol na superfície da sociedade esses corações cancerosos que aí vedes; deixai erguerem-se, tombar, despedaçarem-se essas vagas encontradas e confusas das opiniões! Tudo isto acontece quando se agita o oceano; e o mar do povo agita-se debaixo da sua superfície. O sargaço imundo, a escuma fétida e turva hão-de desparecer. Um dia o oceano popular será grandioso, puro e sereno como saiu das mãos de Deus. A tempestade é a precusora da bonança. O lago asfaltite, o Mar Morto, esse é que não tem procelas. O nosso estrebuchar, muitas veze colérico, muitas mais mentecapto e ridículo, prova que a Europa se enganava quando cria que esta nobre terra do último ocidente era o cemitério de uma nação cadáver. Vivemos: e ainda que semelhante viver seja o delírio febril de moribundo, esta situação violenta, aos olhos dos que sabem ver, é uma crise de salvação, posto que dolorosa, e lenta. Confiemos e esperemos: o nome português não foi riscado do livro dos eternos destinos. Alexandre Herculano, in "Duas Épocas e Dois Monumentos (Questões Públicas - 1843)"

Música da semana...Ballad of the Absent Mare - Leonard Cohen..


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Concurso Leitura Expressiva VII

Aproxima-se o Concurso de Leitura Expressiva VII, que terá lugar nos dias 26(Português), 27(Francês) e 28(Inglês) de outubro, subordinado ao tema: A FELICIDADE.

Estamos certos de que viveremos excelentes momentos de leitura de qualidade nas 3(três) línguas que se estudam no nosso Agrupamento, pelos alunos dos 3(três) ciclos de ensino.


Os documentos oficiais são: Regulamento do concurso CLE - Concurso de leitura Expressiva e Ficha de inscrição do CLE. Estes documentos digitais encontram-se aqui - Descarrega Regulamento CLE e descarrega Ficha de inscrição CLE.



quarta-feira, 7 de outubro de 2015




AGENDA - ATIVIDADES DO MÊS DE OUTUBRO

                   - Formação de utilizadores
                            - Concurso de leitura expressiva 
  - O livro do mês
                          - Ler no jardim- famílias leitoras









Parabéns aos vencedores!!!


Livro do mês....


                                                                





                                                                Sam McBratney -Biografia


Nasceu na Irlanda, onde vive com a sua família.
Durante muitos anos foi professor e foi nesta altura que começou a escrever para ajudar os seus alunos na leitura. Contudo, continuou a escrever, segundo ele próprio, por uma razão mais pessoal, porque  “ o ato de imaginar fazia-me sentir bem”.
Afirma que quando escreve uma história infantil tenta pensar no que as crianças gostariam, mas também já escreveu para adultos.
Sam McBratney publicou dezenas de livros, mas aquele pelo qual ele é mais conhecido é o livro nº 57, que agora é um clássico, intitulado: “ Adivinha  Quanto Eu Gosto de Ti”. 

 A história da Pequena Lebra Castanha e da Grande Lebre Castanha passou a vender mais de 28 milhões de cópias em todo o mundo,  em 50 línguas.








A Pequena Lebre Castanha adora brincar ao vento do Outono - especialmente quando ele lhe traz uma grande surpresa.

Dos criadores de Adivinha Quanto Eu Gosto de Ti, quatro histórias encantadoras, perfeitas para partilhar com os seus filhos!

                         


Desafio:

                     Imagina que havia mesmo um monstro na caixa castanha.
                    Desenha-o.




























                










Nota: o melhor desenho será recompensado.




Texto da semana...Escrever é Esquecer..de Fernando Pessoa..








Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e o representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.


 Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

Queda do Muro de Berlim ... fez 25 anos


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

MÁRCIA - A INSATISFAÇÃO..




A Insatisfação


Escrita fina
quando corre ensina
não dura um deserto que atravesse
Pode ir sendo
que demore um tempo
mais tarde ou mais cedo
lá me acerto

Na lembrança
o meu céu de criança
a quem nunca se entrega um tom cinzento
por momentos
vem num pensamento
e uma nuvem chove cá por dentro

Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)

Porque tento
andar atrás no tempo
e entender a chuva que acontece?
Como por magia
há sempre um novo dia
e outra Lua Nova que anoitece
Se a madrugada traz uma canção
pouco importa que me insista hoje em "dia não"
tomei o meu fastidio pra me atormentar
pedras no meu trilho são pra me assentar

Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)

Mesmo transformando em nosso o que era meu
se és a sorte do caminho que a vida escolheu
Canta que me afina, faz-nos avançar
premeia-me o destino por te ver dançar

Quando acordar do sono que eu escolhi
quero ter no meu cantinho sempre mais de ti
cada rosa, cada espinho que tanto cresceu
mesmo quando venham pra nublar-me o céu.


Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul
nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)


MÚSICA E LETRA - Márcia

Ler é aprender ,conhecer ,sonhar, imaginar .......






A Única Alegria Neste Mundo é a de Começar..A infância é a actividade máxima, porque está ocupada em descobrir o mundo na sua diversidade. Bom ano ano lectivo e boas leituras...


A única alegria neste mundo é a de começar. É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante. 
 O ócio torna lentas as horas e velozes os anos. A actividade torna rápida as horas e lentos os anos. A infância é a actividade máxima, porque ocupada em descobrir o mundo na sua diversidade.
Os anos tornam-se longos na recordação se, ao repensá-los, encontramos numerosos factos a desenvolver pela fantasia. Por isso, a infância parece longuíssima. Provavelmente, cada época da vida é multiplicada pelas sucessivas reflexões das que se lhe seguem: a mais curta é a velhice, porque nunca será repensada.
Cada coisa que nos aconteceu é uma riqueza inesgotável: todo o regresso a ela a aumenta e acresce, dota de relações e aprofunda. A infância não é apenas a infância vivida, mas a ideia que fazemos dela na juventude, na maturidade, etc. Por isso, parece a época mais importante, visto ser a mais enriquecida por considerações sucessivas.
Os anos são uma unidade da recordação; as horas e os dias, uma unidade da experiência.

Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'

terça-feira, 2 de junho de 2015

Poesia da semana.....No Entardecer dos Dias de Verão.....














No entardecer dos dias de Verão, às vezes, 
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece 
Que passa, um momento, uma leve brisa... 
Mas as árvores permanecem imóveis 
Em todas as folhas das suas folhas 
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão, 
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria... 
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem! 
Fôssemos nós como devíamos ser 
E não haveria em nós necessidade de ilusão ... 
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida 
E nem repararmos para que há sentidos ... 
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo 
Porque a imperfeição é uma cousa, 
E haver gente que erra é original, 
E haver gente doente torna o Mundo engraçado. 
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos, 
E deve haver muita cousa 
Para termos muito que ver e ouvir ... 


Alberto Caeiro,

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Momento de poesia.....De Quem é o Olhar??













De quem é o olhar 
Que espreita por meus olhos? 
Quando penso que vejo, 
Quem continua vendo 
Enquanto estou pensando? 
Por que caminhos seguem, 
Não os meus tristes passos, 
Mas a realidade 
De eu ter passos comigo ? 

Às vezes, na penumbra 
Do meu quarto, quando eu 
Por mim próprio mesmo 
Em alma mal existo, 

Toma um outro sentido 
Em mim o Universo — 
É uma nódoa esbatida 
De eu ser consciente sobre 
Minha idéia das coisas. 

Se acenderem as velas 
E não houver apenas 
A vaga luz de fora — 
Não sei que candeeiro 
Aceso onde na rua — 
Terei foscos desejos 
De nunca haver mais nada 
No Universo e na Vida 
De que o obscuro momento 
Que é minha vida agora! 

Um momento afluente 
Dum rio sempre a ir 
Esquecer-se de ser, 
Espaço misterioso 
Entre espaços desertos 
Cujo sentido é nulo 
E sem ser nada a nada. 
E assim a hora passa 
Metafisicamente. 


Fernando Pessoa,

terça-feira, 26 de maio de 2015

Texto da semana.....O Paradoxo da Verdade...


O homem deseja e odeia a verdade. Quer mentir aos outros - quer que o enganem (prefere a ficção à realidade), mas por outro lado receia o engano, quer o fundo das coisas, o verdadeiro verdadeiro, etc. 
Somente a razão conduz à verdade. Mas só os fanáticos, os visionários e os iluminados fazem as coisas grandiosas, mudanças, descobertas. A verdade, de tanto se tornar necessária, conduz à secura, à dúvida, à inércia - à morte. 
É muito natual que os homens odeiem aqueles que dizem ou tentam dizer a verdade. A verdade é triste (dizia Renan) - mas, com maior frequência, é horrível, temível, anti-social. Destrói as ilusões, os afectos. Os homens defendem-se como podem. Isto é, defendem a sua pequena vida, apenas suportável à força de compromissos, de embustes, de ficções, etc. Não querem sofrer, não querem ser heróis. Rejeição do heroísmo-mentira. 

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'