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segunda-feira, 17 de março de 2025

POEMA DA SEMANA:A Dor Tem um Elemento de Vazio

 


A Dor - tem um Elemento de Vazio -

Não se consegue lembrar
De quando começou - ou se houve
Um tempo em que não existiu -


Não tem Futuro - para lá de si própria -
O seu Infinito contém
O seu Passado - iluminado para aperceber
Novas Épocas - de Dor.
Emily Dickinson, in "Poemas e Cartas"


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Liberdade / revolução de Abril










Liberdade

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

Revolução - Descobrimento...

Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
— Catarsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"





quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Momento de poesia...Quando Está Frio no Tempo do Frio...

 












Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no fato de aceitar —
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Momento de poesia..O leão e o porco..Bocage..

 















O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):
Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;
Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúria
Os outros animais, dizendo-lhe com ira:
«Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!»
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!
Dos filhos para o génio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.

Bocage, in 'Fábulas'

segunda-feira, 17 de abril de 2023

25 de abril - poemas sobre a liberdade..



 
          

        1-      Não hei-de morrer sem saber

               qual a cor da liberdade.

               Eu não posso senão ser

               desta terra em que nasci.

               Embora ao mundo pertença

               e sempre a verdade vença,

               qual será ser livre aqui,

               não hei-de morrer sem saber.

               Trocaram tudo em maldade,

               é quase um crime viver.

               Mas, embora escondam tudo

               e me queiram cego e mudo,

               não hei-de morrer sem saber

               qual a cor da liberdade.

 

Jorge de Sena   




 2 -Vejam bem


Que não há só gaivotas em terra

Quando um homem se põe a pensar

Quando um homem se põe a pensar

 

Quem lá vem

Dorme à noite ao relento na areia

Dorme à noite ao relento no mar

Dorme à noite ao relento no mar

 

E se houver

Uma praça de gente madura

E uma estátua

E uma estátua de febre a arder

 

Anda alguém

Pela noite de breu à procura

E não há quem lhe queira valer

E não há quem lhe queira valer

 

Vejam bem

Aquele homem a fraca figura

Desbravando os caminhos do pão

Desbravando os caminhos do pão

 

E se houver

Uma praça de gente madura

Ninguém vem levantá-lo do chão

Ninguém vem levantá-lo do chão

 

Vejam bem

Que não há só gaivotas em terra

Quando um homem

Quando um homem se põe a pensar

 

Quem lá vem

Dorme à noite ao relento na areia

Dorme à noite ao relento no mar

Dorme à noite ao relento no mar

 

José Afonso

          








 3 -País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exatamente aqui
tão perto que parece longe.

Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.

Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.

País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.

País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.

Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.

País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.

Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.

                                                                                 Manuel Alegre





4 - Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.   

Miguel Torga, 



quarta-feira, 29 de março de 2023

CULTURA, CONVÍVIO E MAGIA NO SARAU DE POESIA

 


No final da tarde do dia 21 de março e no final da manhã do dia 22, a biblioteca transbordou de leituras, música, entrega de prémios e sessão de autógrafos dos nossos pequenos autores do Livro da Ajudaris’22.


Os alunos premiados do Concurso Nacional de Leitura, do Concurso de Leitura Expressiva, autores dos textos sobre a água publicados no livro “Histórias da Ajudaris’22”, os seus professores e os seus familiares foram convidados a participar no Sarau de Poesia, organizado pela Biblioteca Escolar.


Num primeiro momento, os alunos leram poesias em língua portuguesa, espanhola, francesa, inglesa e alemã, para deleite de todos os presentes.



Seguiu-se a entrega de certificados de participação no Concurso Nacional de Leitura e de prémios do Concurso de Leitura Expressiva pelos professores envolvidos nestas iniciativas.


Na terceira parte do Sarau, procedeu-se à apresentação do livro “Histórias da Ajudaris’22” com a leitura dos três textos coletivos elaborados pelos alunos, que no ano transato, estavam nas turmas 2º O, 3º C e 4º G e a venda de alguns exemplares que foram autografados pelos pequenos autores presentes.




No dia 22, um grupo de alunos da turma 8º4 presenteou os colegas do 1º ciclo e algumas turmas do 2º e 3º ciclo com uma apresentação musical, que incluía o piano, o violino, o violoncelo e as vozes que cantaram para a plateia e declamaram poemas de Fernando Pessoa. Este momento permitiu aos mais novos divertirem-se e admirar o que os mais velhos conseguem tão bem fazer.


Eis o testemunho da Rita Fonseca: “foi uma atividade interessante. Fizemos vários ensaios para que tudo corresse da melhor maneira. Considero que a apresentação deste musical foi engraçada, pois diverti-me na realização do projeto.”


As turmas vibraram com a energia e emoção e cantaram “muito bem, muito bem, muuuito bem!"



Esperamos que mais momentos como este venham a repetir-se ainda este ano letivo.



segunda-feira, 27 de março de 2023

Boa Páscoa a a todos...PÁSCOA NA ALDEIA, de Teixeira de Pascoaes e Miguel Torga...








 

             I

Minha aldeia na Páscoa…
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores…
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
Ressurreição de Deus! (…)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida…
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras…
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (…)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço.
Esperam o COMPASSO…
E, ajoelhando com séria devoção.
Beijam os pés da Cruz.

Teixeira de Pascoaes


                       II

Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI






terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

O AMOR INSPIRA A POESIA




 O Daniel Agra gosta muito de escrever. 

Hoje, teve a amabilidade de partilhar connosco este poema sobre o Amor. 



Lê com atenção o que lhe vai no coração...

O amor é um sentimento poderoso

Com ele pode-se fazer fogo

É aquilo que nem todos gostam

Mas muitos o provocam


Podemos não demonstrá-lo

Muitos poderão criticá-lo

Não o podemos forçar

Porque assim o vamos estragar


Quando gostamos daquela pessoa

Não o podemos esconder

Porque isso não é nosso poder


Quando ela nos magoa

Nem podemos pensar

Porque choramos sem parar


Quando encontramos a verdadeira
Não podemos pensar no pior
Porque se fosse assim 
Eu não seria o melhor





quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

A biblioteca de Gondifelos deseja um bom ano a todos os alunos, alunas, professores ,professoras e comunidade escolar....



 


Saudação aos que vão Ficar..


Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude,
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem,
cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando o seu amor?
Que lei de tráfego impedirá um inquilino
- ante o lugar que vence -
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lágrimas ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura?
E o que será juízo?
A propriedade, será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará a ser feiura?
Haverá entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia (vá lá, os Estados Unidos)
não farão às ocultas, homens especiais
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem morará no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil
no ano dois mil?
Haverá imbecis?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar para o ano três mil
no ano dois mil?

in "Pif-Paf"

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Momento de poesia..Natal é...Quando um Homem Quiser....

 














Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'