A Dor - tem um Elemento de Vazio -
De quando começou - ou se houve
Um tempo em que não existiu -
Não tem Futuro - para lá de si própria -
O seu Infinito contém
O seu Passado - iluminado para aperceber
Novas Épocas - de Dor.
O teu espaço de aprendizagem e leituras onde encontras tudo o que procuras
A Dor - tem um Elemento de Vazio -
1- Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena
2 -Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra
Quando um homem se põe a pensar
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme à noite ao relento na areia
Dorme à noite ao relento no mar
Dorme à noite ao relento no mar
E se houver
Uma praça de gente madura
E uma estátua
E uma estátua de febre a arder
Anda alguém
Pela noite de breu à procura
E não há quem lhe queira valer
E não há quem lhe queira valer
Vejam bem
Aquele homem a fraca figura
Desbravando os caminhos do pão
Desbravando os caminhos do pão
E se houver
Uma praça de gente madura
Ninguém vem levantá-lo do chão
Ninguém vem levantá-lo do chão
Vejam bem
Que não há só gaivotas em terra
Quando um homem
Quando um homem se põe a pensar
Quem lá vem
Dorme à noite ao relento na areia
Dorme à noite ao relento no mar
Dorme à noite ao relento no mar
José Afonso
3 -País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exatamente aqui
tão perto que parece longe.
Tem pinheiros e mar tem rios
tem muita gente e muita solidão
dias de festa que são dias tristes às avessas
é rua e sonho é dolorosa intimidade.
Não procurem nos livros que não vem nos livros
País de Abril fica no ventre das manhãs
fica na mágoa de o sabermos tão presente
que nos torna doentes sua ausência.
País de Abril é muito mais que pura geografia
é muito mais que estradas pontes monumentos
viaja-se por dentro e tem caminhos veias
- os carris infinitos dos comboios da vida.
País de Abril é uma saudade de vindima
é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho
território de fruta no pomar das veias
onde operários erguem as cidades do poema.
Não procurem na História que não vem na História.
País de Abril fica no sol interior das uvas
fica à distância de um só gesto os ventos dizem
que basta apenas estender a mão.
País de Abril tem gente que não sabe ler
os avisos secretos do poema.
Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos
para falar aos homens do País de Abril.
Mais aprende que o mundo é do tamanho
que os homens queiram que o mundo tenha:
o tamanho que os ventos dão aos homens
quando sopram à noite no País de Abril.
Manuel Alegre
4 - Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga,
No final da tarde do dia 21 de março e no final da manhã do dia 22, a biblioteca transbordou de leituras, música, entrega de prémios e sessão de autógrafos dos nossos pequenos autores do Livro da Ajudaris’22.
Os alunos
premiados do Concurso Nacional de Leitura, do Concurso de Leitura Expressiva,
autores dos textos sobre a água publicados no livro “Histórias da Ajudaris’22”,
os seus professores e os seus familiares foram convidados a participar no Sarau
de Poesia, organizado pela Biblioteca Escolar.
Num primeiro momento, os alunos leram poesias em língua portuguesa, espanhola, francesa, inglesa e alemã, para deleite de todos os presentes.
Seguiu-se a entrega de certificados de participação no Concurso Nacional de Leitura e de prémios do Concurso de Leitura Expressiva pelos professores envolvidos nestas iniciativas.
Na terceira parte do Sarau, procedeu-se à apresentação do livro “Histórias da Ajudaris’22” com a leitura dos três textos coletivos elaborados pelos alunos, que no ano transato, estavam nas turmas 2º O, 3º C e 4º G e a venda de alguns exemplares que foram autografados pelos pequenos autores presentes.
No dia 22, um grupo de alunos da turma 8º4 presenteou os colegas do 1º ciclo e algumas turmas do 2º e 3º ciclo com uma apresentação musical, que incluía o piano, o violino, o violoncelo e as vozes que cantaram para a plateia e declamaram poemas de Fernando Pessoa. Este momento permitiu aos mais novos divertirem-se e admirar o que os mais velhos conseguem tão bem fazer.
Eis o testemunho da Rita Fonseca: “foi uma atividade interessante. Fizemos vários ensaios para que tudo corresse da melhor maneira. Considero que a apresentação deste musical foi engraçada, pois diverti-me na realização do projeto.”
As turmas vibraram com a energia e emoção e cantaram “muito bem, muito bem, muuuito bem!"
Esperamos que mais momentos como este venham a repetir-se ainda este ano letivo.
Minha aldeia na Páscoa…
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores…
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
Ressurreição de Deus! (…)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida…
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras…
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (…)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço.
Esperam o COMPASSO…
E, ajoelhando com séria devoção.
Beijam os pés da Cruz.
Teixeira de Pascoaes
II
Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI
O Daniel Agra gosta muito de escrever.
Hoje, teve a amabilidade de partilhar connosco este poema sobre o Amor.
Lê com atenção o que lhe vai no coração...
O amor é um sentimento poderoso
Com ele pode-se fazer fogo
É aquilo que nem todos gostam
Mas muitos o provocam
Podemos não demonstrá-lo
Muitos poderão criticá-lo
Não o podemos forçar
Porque assim o vamos estragar
Quando gostamos daquela pessoa
Não o podemos esconder
Porque isso não é nosso poder
Quando ela nos magoa
Nem podemos pensar
Porque choramos sem parar
Quando encontramos a verdadeira
Não podemos pensar no pior
Porque se fosse assim
Eu não seria o melhor