José Saramago nasceu em Azinhaga, uma pequena povoação do Ribatejo em 16 de novembro de 1922. Filho de José de Sousa e Maria da Piedade, José de Sousa teria sido também o seu nome, se o funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe tivesse acrescentado a alcunha por que a família de seu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres).
Em 1924, a família mudou-se para Lisboa. Embora as condições em que viviam tivessem
melhorado um pouco com a mudança, nunca viriam a conhecer verdadeiro desafogo
económico. Só aos 13 ou 14 anos passou a viver numa casa (pequeníssima) só para
a família: até aí sempre tinham habitado em partes de casa, com outras
famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e frequentemente
prolongados, os períodos em que viveu na aldeia com os seus avós maternos,
Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.
Avós de José Saramago |
Foi bom aluno na escola primária.
Transitou depois para o liceu, onde teve notas excelentes. Frequentou apenas
dois anos pois, por falta de meios, os pais não poderiam continuar a mantê-lo
no liceu. A única alternativa seria entrar para uma escola de ensino
profissional, e assim foi: durante cinco anos aprendeu o ofício de serralheiro
mecânico. O plano de estudos da escola, embora obviamente orientado para
formações profissionais técnicas, incluía, além do Francês, uma disciplina de
Literatura. Como não tinha livros em casa, foram os livros escolares de
Português que lhe abriram as portas para a fruição literária. Terminado o
curso, trabalhou durante cerca de dois anos como serralheiro mecânico. Também
por essa altura tinha começado a frequentar, nos períodos noturnos de
funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E foi aí que o seu gosto pela
leitura se desenvolveu e apurou.
Casou em 1944 com Ilda Reis e passou a trabalhar como empregado administrativo. Em 1947, ano do nascimento da única filha, Violante, publicou o primeiro livro, um romance que intitulou A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escreveu ainda outro romance, Clarabóia e principiou um outro, que não passou das primeiras páginas. Entretanto abandonou o projeto de escrita, tendo ficado ausente do mundo literário português durante dezanove anos.
Com Ilda Reis e a filha, Violante |
Por motivos políticos ficou
desempregado em 1949, mas, graças à boa vontade de um antigo professor,
encontrou ocupação na empresa metalúrgica de que ele era administrador. No
final dos anos 50, passou a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como
responsável pela produção, regressando, embora não como autor, ao mundo das letras.
Essa nova atividade permitiu-lhe conhecer e criar relações de amizade com
alguns dos mais importantes escritores portugueses de então. Para melhorar o
orçamento familiar, mas também por gosto, começou a dedicar uma parte do tempo
livre a trabalhos de tradução e à de crítico literário.
Em 1966, publica Os Poemas Possíveis, uma coletânea poética que marcou o seu
regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra coletânea de
poemas, Provavelmente Alegria, e em
1971 e 1973 respetivamente, sob os títulos Deste
Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante,
duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem considerado
essenciais à completa compreensão do seu trabalho posterior.
Deixou
a editora no final de 1971 e durante os
dois anos seguintes, trabalhou no vespertino Diário de Lisboa como coordenador
de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título
As Opiniões que o DL teve, estes
textos representam uma “leitura”
bastante precisa dos últimos tempos da ditadura que viria a ser derrubada em
abril daquele ano. Em abril de 1975 passou a exercer as funções de diretor-adjunto
do matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhou até novembro desse ano e
de que foi demitido na sequência das mudanças ocasionadas pelo golpe
político-militar de 25 daquele mês. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993, um poema longo publicado
em 1975, que alguns críticos consideram já anunciador das obras de ficção que
dois anos depois se iniciariam com o romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos, os artigos de teor político que publicou no jornal
de que havia sido diretor.
No princípio de 1976 instalou-se por algumas
semanas em Lavre, uma povoação rural no Alentejo. Foi esse período de estudo,
observação e registo de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão, em que nasce o modo de
narrar que caracteriza a sua ficção novelesca. Entretanto, em 1978, havia
publicado uma coletânea de contos,
Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A
Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do
Chão, nova obra teatral, Que Farei com
este Livro?.
Com
exceção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década
de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial
do Convento, 1982, O Ano da Morte de
Ricardo Reis, 1984, A Jangada de
Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa,
1989.
Em
1986 conheceu a jornalista espanhola Pilar del Río com quem casou em 1988. Por
questões políticas, em fevereiro de 1993 mudou-se para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de
Canárias. No princípio desse ano publicou a peça In Nomine Dei, ainda escrita
em Lisboa e iniciou a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote. Em 1995, ano
em que lhe foi atribuído o Prémio Camões,
publicou o romance Ensaio sobre a
Cegueira e, em 1997, Todos os Nomes
e O
Conto da Ilha Desconhecida. Em 1998
recebe o Prémio Nobel de Literatura.
Desde 1998, publicou Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O
Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre
a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o
Dissoluto Absolvido (2005), As
Intermitências da Morte (2005) e As
Pequenas Memórias (2006) e em 2008, A Viagem do Elefante e ainda Caim e O Caderno II, publicados em 2009.
Em 2007
foi criada uma Fundação com o seu nome, a qual assume, entre os seus objetivos
principais, a defesa e a divulgação da literatura contemporânea e a defesa e a exigência
de cumprimento da Carta dos Direitos Humanos. Em Julho de 2008 foi assinado um
protocolo de cedência da Casa dos Bicos para sede da Fundação José Saramago.
Postumamente, foram publicados Claraboia (concluído em 1953 e publicado
em 2011) e Alabardas, alabardas,
Espingardas, espingardas (2014), romance incompleto que José Saramago
estava a escrever em 2010, ano do seu falecimento.
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